quinta-feira, dezembro 29, 2005

Ecologia anti-humana

O filósofo Karl Popper, já falecido, lá na sua juventude, envolveu-se em uma polêmica, em um jornal de Viena, Áustria. Seu pai, advogado, não gostou. Para o velho, jornais não eram o veículo apropriado para o debate de idéias. Talvez tivesse razão. Mas, ao contrário do que ele talvez pensasse, debates publicos, com representantes de diferentes e diversas entidades, sejam estatais, sejam privadas, também não. Ao menos, em Porto Alegre.

Em outubro próximo passado, a associação de moradores do bairro Menino Deus (Assamed) de Porto Alegre, promoveu uma tarde de "debates" centrados no tema ecologia. Mas, ao contrário do que se poderia supor, não se tratava de um debate. Isso já se via pela nome: II Jornada pela Sustentabilidade. Entre tantas depravações semânticas hodiernas, está a do termo ‘sustentabilidade’, que, partindo do óbvio (toda atividade tem de ser sustentável), afirma o anti-humano.

Óbvio, porque toda atividade humana tem um arcabouço econômico (os recursos não são infinitos). Anti-humana, porque, em vez de acreditar na capacidade e no intelecto humanos para o aperfeiçoamento, logo, para a sustentabilidade, prega que se negue a tecnologia, cuja principal característica está em trazer prosperidade e evitar mortes. Sustenvavelmente E os 200 anos de industrialismo são uma prova disso.

Assim, naquela tarde de outubro, para uma platéia de estudantes de primeiro grau (Ensino Fundamental), de uma escola estatal, situada no bairro Menino Deus, entre vários palestrantes, um deles disse, ao encerrar, que, o que por ‘ecologia’, pode-se compreender, atém-se a uma letra do alfabeto: R.
De tal forma, a mentes despreparadas e incautas, disse que ecologia é" reduzir, reutilizar e reciclar.

Primeiro erro, fundamental e inadmissível, para alguém que se apresentou de uma ONG que defende o meio ambiente. Por ‘ecologia’ entende-se o estudo do ambiente em que vive uma ou mais, ou todas as espécies. O sujeito, de fato, falava em ‘práticas conservacionistas’ e não em ecologia. Conseqüentemente, os infantes da platéia foram currados mentalmente e, pior, o dano será longo e de difícil reversão.

Em conversa com este redator, após sua equivocada palestra, o sujeito que fez aquela afirmação, presssionado para falar sobre como o mundo deveria viver em vista de o ideais dele, e de outros tantos, com o fim preservacionista, lascou: "O ideal seria voltarmos ao mundo do artesanato, o mundo de antes da revolução industrial". Nunca antes, este redator conseguir obter, tão facilmente, de um "ecologista", a confissão de sua insanidade.

Questonei-lhe: tens automóvel? Celular? Computador? Voas de avião? Tens refrigerador, fogão, microondas etc e tal? Respondeu afirmativamente a todas estas perguntas, negando, na sua vida, o que ensina para outrem e, pior, o que pensa sobre o mundo - para os outros, claro.
Ele é mais um desses ditadores, voluntariosos, que têm a fórmula para salvar a humanidade de si mesma. Como ele é, supostamente, um iluminado, que sabe o que é melhor para o mundo, é ele, assim, de uma elite, que não precisa, claro, como todas as elites (desde Platão) sujeitar-se às regras que estipula para os demais.

Imoralidade, canalhice.

Daí que o nome dele não será aqui declinado. Este pessoal gosta de exercitar o seu sadismo anti-humano sobre todos. Mas não gosta de ver sua perversão revelada.

Naturalmente.

De volta ao jornalismo
Na edição de 29/12/2005, quinta-feira, no caderno Ambiente, o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, publicou, como assunto principal (capa e duas páginas internas inteiras) um suposto "alerta" sobre a tal, famosamente, suposta degradação do meio ambiente. O título, de um apelo alarmista, não deixa dúvidas: "Como viverão os netos dele", com a foto de uma criança caminhando sobre um mapa mundi. Ao lado do título, as idéias que lhe seguem: "... se continuarmos a desperdiçar água ... se mantivermos o uso indiscriminado de automóvel e ar-condicionado .. se devastarmos as florestas". Após, a indicação das práticas, supostamente, profiláticas: "Saiba como reagir", chamando para as páginas internas. O texto é, assim, um misto de ingenuidade científica, pelos perigos listados, somados às "atitudes" dos habitantes da sociedade industrial.

Pane no debate
Mas a real pane no debate - é que não há debate (certo, certo) - está no fato de a reportagem alarmista e prescritivista, salvacionista, não levar em conta um dado básico quanto à presença do homem no planeta hoje e suas perspectivas para o futuro.

O dado poderia ter sido obtido junto a um dos órgãos da maior instituição burocrática a promover a eugenia no mundo: a ONU - que mascarou de multiculturalismo o ideal nacional-socialista hitleresco de aperfeiçoar o homem, através da intervenção de a burocracia estatal. Devidamente apoiada pelo suposto conhecimento científico.

O dado básico, omitido da reportagem (que usou como fontes entidades suspeitas, tais como Greenpeace e World Wildlife Fundo e, também, a ONU, mas não no que importava) está em um recente estudo desta, que aponta que o crescimento demográfico no mundo mais desenvolvido (justamente o maior acusado de degradar o planeta) não repõe a presença humana no planeta. A taxa de reposição é de 21 filhos para cada 10 mulheres (nove dão à luz dois filhos e, uma, três). Todos os países desenvolvidos, exceto os EUA (devido à imigração, não à sua população "nacional"), têm taxas abaixo de 2 filhos por mulher. O Japão tem taxa 1,35 e, a Espanha, 1,15 - para citar dois exemplos. O Brasil, deitado eternamente em berço esplêndido, sic semper pátria do futuro, já está abaixo de 2 também.

Ou seja, a tendência é a humanidade utilizar cada vez menos recursos do planeta, pois ela é uma espécie em decadência populacional. Haverá cada vez menos gente no mundo. Haverá cada vez menos uso de água. Haverá cada vez menos necessidade de se produzir alimentos. Haverá cada vez menos uso do automóvel e do ar-condicionado. Haverá cada vez menos lixo.

Etc, etc, etc.

E, nisso, Zero Hora, fazendo coro ao alarmismo ambientalista, uma variação do anti-humanismo, apesar de, supostamente, falar em nome dele, mascara o debate, omite dados imprescindíveis, para se chegar a alguma conclusão e, pior, aplica, a seus leitores, uma censura moral, caso eles leiam as recomendações preservacionistas e as comparem com seu modo de vida.

"O futuro do planeta", expressão cartola das páginas internas do caderno, esquece de elencar os dados demográficos, sem os quais quaisquer ponderações no tema tornam-se ociosas, parciais e, pior, anti-industrialistas. Talvez o editor de ZH queira voltar ao mundo em que as pragas dizimavam as colheitas, ou as pessoas, em que havia ainda mais fome no mundo - esta, onde há, existe porque o capitalismo não é empregado, mas, sim, uma visão socialista (estatista) de intervenção, na qual só vive bem a burocracia estatal e seus clientes - supostos empresáarios - todos mamando no alimento que tiram da boca do povo.

Assim, então, você perguntará a este redator: por que ler Zero Hora? Ora, porque é o perfeito exemplo.

E alguns de seus jornalistas ainda falam em imparcialidade, neutralidade, ética na comunicação. Só se for a ética do coletivismo e seus embustes anti-humanos.

Se é para ser parcial, faça como o redator de Folha do Porto. Defenda o homem, defenda o trabalho, defenda a vida, defenda a criação, defenda a produção. Defenda a racionalidade.

Bom ano novo a todos e, cuidado, o coletivismo está por todo lado. Mas, para que faça água, basta um disparo, abaixo da linha d'água (of course).

Bertrand Kolecza - redator