Jornal fabrica mito Dirceu
Enfim, então, José Dirceu de Oliveira e Silva foi cassado. O homem, que com CPIs feriu, com CPI foi ferido. Em tempo: ele e seu especial assessor Waldomiro Diniz lá estavam, fornecendo à imprensa informações para depor Collor de Mello e, depois, o presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, nos distantes anos de 1992 e 1993. A imprensa sempre acolheu bem suas denúncias, como agora, contra ele. A imprensa é esta prostituta da moralidade (paradoxal, não?).
Mas, nas notícias divulgadas aqui em Porto Alegre, no maior jornal local, o Zero Hora, vê-se que a imprensa, preponderantemente esquerdóide e coletivista, tentou salvar o mito, mesmo que expulso por oito anos da vida política (ainda bem - embora ele, agora, possa se tornar eminência parda e exercer influência oculta, o que não é bom para a sempre jovem democracia).
Bueno, o mito então. Na capa de Zero Hora, cuja manchete é "Dirceu cassado’, lê-se, no texto-chamada que "O ex-guerrilheiro afirmou, em seu discurso derradeiro, que não existiam provas contra ele.", etc. E, nas páginas internas, após a notícia da cassação, uma breve biografia do justiçado, na página 09, sob o título "O guerrilheiro que chegou ao Planalto". Não há dúvida alguma que os jornalistas de ZH, da sensível e importante editoria de política (junto à de economia a mais nobre do periódico), definem, montam, forjam, enaltecem, fabricam, constróem o mito do guerrilheiro, contra o governo de 1964. Homem-mito que, após 34 anos, dá a volta por cima na história política, chegando ao poder, em 2002.
Mas, o que salta aos olhos, de quem lê com atenção o resumo biográfico de Dirceu, sob o título acima, é que ele não foi guerrilheiro coisa nenhuma. Ele não pegou em uma única arma.
O texto não deixa dúvidas sobre isso. Depois de preso, em um congresso de estudantes em Ibiúna, em outubro de 1968, Dirceu foi trocado pelo seqüestrado embaixador norte-americano Charles Elbrick e foi para Cuba, em setembro de 1969. [O seqüestro, aliás, um crime introduzido no Brasil pela esquerda política; junto ao de assalto a bancos.] Consta que Dirceu treinou táticas de guerrilha em Cuba. Mas o fato é que, no Brasil, nunca lutou, nunca foi guerrilheiro. Isso está claro na biografia de Dirceu apresentada por Zero Hora. Treinar táticas de guerrilha é uma coisa, atuar nela, outra. Da mesma forma como um sujeito pode se formar em Direito e não advogar.
Assim, a notícia confunde, pois o corpo da matéria nega o texto. Afirmar e negar, confundindo o leitor bem intencionado é uma estratégia típica da comunicação comunista, pois a assimilação de informações contraditórias leva ao caos mental. Nesse quesito, Luís Inácio é bamba, chegando a explicitá-lo, certa vez, definindo-se como "metamorfose ambulante" ("vou dizer agora o oposto do que eu disse antes" - na canção de Raul "maluco beleza" Seixas).
Premeditadamente, ou não, os editores de política de ZH investiram, como muito investem em outras edições e investirão, na confusão mental do leitor, deixando-o na dúvida se o jornal é pró PT (coletivismo) ou contra. Tanto que há adesivos em Porto Alegre, em carros, com os dizeres "ZH mente. Não leio ZH". São carros em que também há adesivos do PT, em épocas de eleição. Talvez sejam de uma outra facção petista, aquela que não apóia Dirceu.
Para salvar, um pouco, a prática jornalística, a colunista de política, Rosane de Oliveira (sabidamente simpatizante, ao menos, do PT), lembrou, muito bem, que, ao ser julgado Collor de Mello, Dirceu argumentou que as provas são irrelevantes, quando indícios de culpa existem, contrapondo ao que Dirceu dissera em sua defesa, que não há provas contra ele.
Mas havia indícios. E muitos.
De qualquer forma, Dirceu é cassado, mas ZH preserva-lhe o mito, parecendo um jornal de partido comunista.
Quem com manchetes mitifica, com mitos mancheteará.
2 Comments:
Muito bom, Bertrand!!
Obrigado, Lucas.
Bertrand
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