quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Banco estatal tem sócios somente no prejuízo

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[Abaixo, nesta página, as colunas do Folha do Porto, de papel, de janeiro 2006]

O banco estatal do governo gaúcho, o Banrisul, anunciou ontem (08/02/2006) lucro de R$ 351,9 milhões em 2005. O crescimento foi de 16,1% (foi de uns R$ 303 milhões em 2004). O patrimônio líquido do banco pulou de R$ 692 milhões (dezembro/2002) para R$ 1,1 bilhão ao final de 2005. São número oficiais, do presidente do banco, que os divulgou ao lado do governador gaúcho, que tem pretensões de se candidatar a presidente da República, por um dos partidos trabalhistas do Brasil (no caso dele, o PMDB).

O Banrisul é banco estatal, com 99,4% de suas ações nas mãos de todos os gaúchos. Nos últimos três anos de gestão, transferiu ao governo R$ 497,9 milhões, dos R$ 501 milhões pagos aos acionistas.

Até aqui, parece que está tudo bem. Mas tem uma coisa que o presidente do banco não falou, ao menos a imprensa diária não divulgou. O fato de todos os gaúchos (10 milhões de pessoas), em especial a população que aufere renda (cerca de 5,8 milhões de pessoas) serem sócios do banco somente no prejuízo.

Explica-se.

Quando FHC salvou bancos estatais e privados, o então governador Antônio Britto, acusado de liberal pelos seus adversários à extrema esquerda, fechou um acordo para honrar a dívida do Estado com a União, incluindo o quebradíssimo Banrisul. Este acordo significa um empenho de 18,3% da receita do Estado transferidos para a União. Desses, 5,3% honram o salvamento do Banrisul, pelo qual todos pagam, mas de cujos lucros, somente o Estado usufrui. O orçamento do RS para 2006 é de R$ 19,1 bilhões.

Em 2005, o Banrisul custava R$ 1,9 milhão ao dia aos gaúchos.

Calcule o senhor o quanto significará em 2006.

Ou seja, os gaúchos que trabalham e auferem renda, que sustentam o Estado, logo, o Banrisul, são sócios somente no prejuízo, para pagar a conta.

O lucro? Este fica com o Tesouro (a burocracia estatal) e os louros, com o presidente, indicado pelo governador.

Se dividíssemos o lucro de R$ 351,9 milhões por 5,8 milhões de gaúchos que geram renda a pagar impostos, o governo estadual deveria lhes entregar a o dividendo de R$ 60 a cada um dos indivíduos economicamente ativos.

Mas, não! Somos sócios somente no prejuízo de R$ 955 milhões anuais (5% de R$ 19,1 bilhões), ou seja, R$ 164,65 per capita da população que aufere renda (5,8 milhões).
E tem gente que ainda pensa que não tem que privatizar.

Deve banco ser atividade do ente estado?

Para um capitalista, ou, liberal, é óbvio que não. E quem menos percebe isso é quem mais sofre, os mais pobres.