Estranho sistema de abastecimento
Na foto, o Riacho, como era conhecido antigamente, vulgo Dilúvio, o maior arroio de Porto Alegre, coração de sua principal bacia, formada por dezenas de arroios e sangas, que recebe, desde 1940 e poucos, quando canalizado, urina e fezes, uma providência do sistema estatal de águas e esgotos. Algumas centenas de metros abaixo da foz do Riacho, está a captação de água, no lago Guaíba, de uma das principais estações de tratamento de água (leia-se, esgoto), que abastece, com o líquido potável, os lares de centenas de milhares de moradores da capital do Rio Grande do Sul. A estação de tratamento, carinhosamente conhecida como hidráulica é a do Menino Deus, cujo nome, Loureiro da Silva, homenageia o prefeito que, nomeado pelo ditador Getúlio Vargas, estava à frente da administração municipal, quando da canalização do Riacho Dilúvio.
Analogicamente falando, trata-se de jogar urina e fezes em uma caixa de água, tratá-la com decantação, filtragem e cloro e, depois, sorvê-la em generosos goles.
Estranho, muito estranho.
Nas décadas de 1970-90, em Porto Alegre, muitos defensores do meio-ambiente levantaram a voz contra a fábrica de celulose do outro lado do Guaíba. Como usa cloro para o branqueamento, este indo para a água, acusavam-na de poluição, com substância cancerígena. O cloro reage com a água, gerando dioxinas.
Mas os defensores da vida nunca se lembraram do sistema químico de tratamento de água empregado em Porto Alegre, que usa cloro, trazendo risco de câncer, ao se beber a água da rica autarquia, que administra a água potável e o esgoto sanitário.
Trata-se de uma escolha. Ou casos esparsos de câncer; ou as doenças infecciosas, que matam mais rápido e mais certeiramente.
Ainda assim, fica a estranheza de os responsáveis (politicos e concursados) criarem e gerirem um sistema que descarrega urina e fezes no Guaíba, para, depois, da mesma água, com cloro infectada, abastecerem a cidade. E ainda cobram por isso. Sem falar no carvão ativado, para trocar o gosto das algas pelo de terra. Enquanto isso, água pura espera uso no subsolo da cidade.
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