quarta-feira, fevereiro 22, 2006

De óleo e bancos

Pablo (não, não o personagem dos Backyardigans do canal 45) é um excelente jornalista, colunista diário e comentarista em rádio e jornal. Com 30 anos em cada veículo, orgulha-se de 90 anos de jornalismo. Cada um faz a conta que melhor lhe convém.

Pablo, na sua coluna de hoje (22/02/2006) no diário chique de Porto Alegre, conta a história de um sujeito que foi "esfolado" pelos juros bancários. Pablo revolta-se contra isso, no que, aliás, parece justo.

Nesse sentido, alia-se à típica queixa trabalhista contra os interesses do setor financeiro. Tal clamor pode ser encontrado em discursos e, até mesmo, em programas políticos de partidos de trabalhadores. É o caso do do nacional-socialismo trabalhista alemão, que, no seu programa de 1920 (Munique, 24 de fevereiro), exigia, entre outras coisas "o fim dos interesses financeiros".
Mas há algo nas notícias dos últimos dias que Pablo esquece. Contra o qual ele também já protestou. Mas a acusação aos bancos, ao "setor" financeiro é injusta, pois, ao menos, imprecisa, e sem uma identificação de causas.

Há mais injustiça, se for comparado o resultado dos bancos ao de um delírio estatal brasileiro. Trata-se da gigantesca estatal do petróleo, que, quanto mais produz, mais caro vende os derivados do ouro negro. Uma tipicamente brasileira negação do capitalismo, em um país que é tudo, menos capitalista, o que a tal estatal prova.

Na sexta-feira passada, o delírio do ditador são-borjense, anunciou seu lucro de 2005 (recorde total em toda a história), que foi de R$ 23,7 bilhões. E os bancos, como vão?

Pois bem, hoje, o mesmo diário em que Pablo escreve soma os lucros de 2005 dos principais bancos, já anunciados. Um total de R$ 12 bilhões e 490 milhões (Itaú, Banco do Brasil, CEF e Unibanco - atenção, dois são estatais). O do Bradesco estava estimado, ontem, em R$ R$ 5,5 bilhões, o que eleva a cifra para R$ 17,99 bilhões. Ao se somar todo o setor financeiro, provavelmente não encoste nos R$ 23,7 bilhões da estatal petrolífera.

Mas há uma outra coisa que não passou na queixa de Pablo contra os bancos. Pablo deve saber, mas ele é um homem cordial (de coração), emotivo. Deve ter esquecido de um detalhe importante.

Os bancos ganham bem (embora muito menos do que a estatal petrolífera), porque o governo federal, deficitário crônico que é, estipula a taxa básica de juro, que é o que ele paga, não aos bancos, mas às pessoas que depositam suas economias em papéis rentáveis - entre eles o CDI (Certificado de Depósitos Interbancários), formado que é em 65% por participação estatal da União. Ou seja, o sujeito "esfolado" pelo banco, ao financiar um automóvel, está, de fato, sendo esfolado pelo governo, que precisa pagar prêmio alto a um dinheiro do qual desesperadamente necessita. Como não gera inflação, imprimindo dinheiro, gera carga tributária e juro alto.

E por que o governo esfola tanto assim o povo, ao oferecer prêmio alto, pelo dinheiro de que ele necessita ardorosamente? Porque o governo gera uma sistema de previdência falido na origem - o da repartição coletiva. O governo gere um sistema de pagamento de pensões e aposentadorias que é deficitário (tanto no senhorial setor estatal, quanto no escravizado setor privado).

Asim, para o governo fazer o bem de pagar pensões e aposentadorias (em certos grotões brasileiros, a renda de um salário mínimo de benefício estatal é o que sustenta pequenas cidades, fechadas aliás ao mundo, daí sua pobreza imensa).

Assim, para que milhões de pobres recebam seus benefícios previdenciários, para que milhões (40, segundo a lula lelé) recebam a esmola do combate à fome (um crime eleitoral, sem dúvida, assim não estipulado na lei específica), o sujeito de classe média baixa, que vai financiar R$ 9 mil para comprar um carro velho é "esfolado pelos bancos" - quando, como visto, quem o esfola é o governo.

Falam em distribuir renda dos perversos capitalistas. Mas cerca de 70% dos créditos do país estão na mão do Estado. Ele ainda detém uma carga tributária de 38% do PIB (mas ela chega a dois terços, se o sujeito paga IRPF).

Sem falar que o orçamento da União compreende todo o PIB brasileiro mais 15% dele. Sem falar que a dívida da União encosta em R$ 1 trilhão.

Não há dúvida de que o estado de bem-estar social (socialismo aplicado sobre uma base supostamente capitalista) implantado no Brasil, desde o ditador são-borjense está, de fato, trazendo enorme mal-estar ao povo deste país.

Da carga tributária de 2005, de R$ 476 bilhões, 40% são destinados ao INSS (R$ 188 bilhões), cujo déficit é de R$ 38, 3 bilhões (arrecadou R$ 108,2 bilhões e pagou R$ 146,5 bilhões) no setor privado, que envolve benefícios a 19 milhões de pessoas. Já os 880 mil beneficiados do setor estatal, geram um déficit de R$ 30,5 bilhões.

O fato é que, quando se implantam medidas trabalhistas de bem-estar social, o capitalismo, existente ou em desenvolvimento, começa a fenecer e, com isso, a redenção da pobreza.

Mas você espera que jornalistas de ego ultra pronunciado enxerguem um poucos mais do que a superfície de águas agitadas? Que eles acreditem no individualismo virtuoso (capitalismo) em lugar de o coletivismo perverso (trabalhismo ou socialismo ou social-democracia)?