sexta-feira, outubro 29, 2004

Eleições Primeiro Turno - Mais reflexões

Lei facilita o delito
Um problema, para deter a boca de urna, no flagrante, é que o sujeito pode estar portando dezenas de panfletos, mas, se não for visto por um policial, ou eleitor indignado, entregando-o a outrem, não configura o crime. Assim, a lei é fraca, escrita pelos políticos, para eles mesmos, ganharem votos através do ilícito. O truque é tipificar o crime e dificultar a sua constatação.
Definição - O Brasil é país para iniciados, não é para qualquer um, “não é para principiantes”, no dizer do antropólogo de fama bien otenida Roberto da Matta. Ele cita o jogo do bicho, que é proibido, mas quem quiser joga. As autoridades sabem disso, nada fazem. Enquanto isso, o governo possui a maior banca de jogo do país.
País para iniciados? Errado. É um país administrado para favorecer a delinqüência, com leis feitas pelos eleitos, que se beneficiam, ocultando seus delitos sob a capa dócil de definições instáveis e omissões estáveis da autoridade.

Sugestões para a lei eleitoral
Nem o tribunal eleitoral, nem a BM podem impedir a boca de urna, na medida em que ela é feita. Por isso, em Porto Alegre, houve ridículas 24 detenções pelo crime.
Todas as autoridades, que deveriam tomar providências, estavam vendo ela acontecer, mas pouco faziam. Vide as 24 detenções.
Assim, a sugestão é ... - No dia da eleição, não pode nada. Não pode panfleto, não pode bandeira, não pode camiseta, não pode broche (botton), não pode adesivo em automóvel. Isenção total, pois garante isonomia (tratamento igual) e idoneidade. E mais. Na véspera do pleito, os candidatos devem retirar todo o seu lixo das ruas.
O povo, além de sustentar a escravidão à politicagem, tem de pagar para o lixo deles ser recolhido. Chega! Basta! Está demais! Eles são obrigados a retirar, mas como, em Porto Alegre, a situação é a de maior poder econômico, o DMLU faz o serviço para todos.
Outra sugestão - Proibir o sujeito, que se elegeu para um dado cargo, de concorrer a outro. Ou, mais amena condição moral, se quiser concorrer a outro cargo, que vá; mas não volta. Exemplo: se é deputado (estadual, como Vieira, Pont e Jair; ou federal, como Mendes, Onyx e Beto) ou senador e concorrer a outro cargo, renuncia, sem direito a voltar, caso perca. Isso moralizaria muito a atividade dos senhores de escravos, a classe política.

Sinais da decadência nas urnas
Ainda no dia da eleição, apurados os votos, o candidato do socialismo trabalhista, variação do comunismo, Raul Pont, admitiu que esperava um “resultado melhor”, de acordo com o “sentimento” que viu nas ruas durante os três meses de campanha. Quem observou, mesmo, a realidade, percebeu que, nestas eleições, a militância do PT estava ausente. E como!
Ausente, se comparada com o ano de 2000, quando Tarso Genro atingiu os 48% no primeiro turno e 63% no segundo turno. Pont ficou em 37,62%, nesta, sendo que ganhou em 1996, com 52%. Pont perdeu 26,5% dos votos ao descer 14 pontos percentuais. Ou seja, a decadência do nacional-socialismo (nazismo) trabalhista é clara, na cidade que já foi definida como “a meca das esquerdas no mundo” - triste epíteto. Já os votos à oposição, neste pleito, somaram 58,5%, uma reviravolta.
A primeira marca inequívoca da decadência foi em 2002, quando Tarso Genro ficou com apenas 3.227 votos a mais do que Rigotto, para o governo do Estado nas urnas de Porto Alegre. Em 1998, Olívio Dutra marcara 119.452 votos a mais do que Britto em Porto Alegre. Dutra fez 58% dos votos a governador em Porto Alegre, em 1998; Tarso Genro fez 42,2% em 2002, 15,8 pontos a menos ou 27,24% a menos.

Pesquisas apontam Fogaça
Os diários Zero Hora e Correio do Povo publicaram sábado, 09/10, as primeiras pesquisas de intenção de voto, pós primeiro turno. ZH, com dados do duvidoso Cepa-Ufrgs, apontou empate técnico, 42% a 41% de Raul Pont (PT) sobre José Fogaça (PPS). A colunista Rosane de Oliveira, de ZH, não escondeu a satisfação de os ver empatados.
Já o centro de pesquisas do Cor-reio do Povo, o que mais tem acertado nos últimos pleitos (vide Rigotto x Genro, em 2002), mostrou Fogaça com 51% e Pont com 42%, retrato mais fiel ao primeiro turno, quando a oposição - Fogaça, Onyx, Vieira, Jair e Mendes - ficou com 58% dos votos e a situação, com 42% - os 37,6% de Raul, mais os 4% de Beto Albuquerque (PSB).
A pesquisa do Ibope, divulgada por ZH a 16/10, apontou para uma vitória de Fogaça 51% x 39% de Raul. Rosane Oliveira, de ZH, mais uma vez apostou na “militância” petista, para virar o jogo.
Talvez pressionado pelo apurado pelos outros, a pesquisa Cepa-Ufrgs, divulgada a 20/10, em ZH, mostrou Fogaça com 50,1% x 41,1% de Raul. E La Oliveira saiu-se com “não se pode afirmar com segurança que o quadro seja irreversível”.
A 22/10, o CP apontou Fogaça com 49,1% x 42,7% de Raul. E o Ibope, em ZH, 53% fogaça x 40% Raul. A próxima do CP virá a 29/10.
Ao ver resultados diferentes, Paulo Sant’ana, em ZH, 22/10, descobriu o óbvio. Ele escreveu que as pesquisas não são infalíveis. Ignora que são científicas, logo, devem ser falíveis; pois, se infalíveis, não são ciência, mas, sim, mito. É que ele as mitificou e, depois, teve de quebrar o seu ídolo de números, no qual apoiou sua fé nos fatos.

Post imprimatur - A edição a ser impressa em papel e tinta, foi fechada no domingo, 24/10, circulando no dia 27/10. A 29/10, o CP publicou sua última pesquisa antes da eleição. Deu a vitória para Fogaça, com 53% versus 47% de Pont, na estimulada. No mesmo dia, ZH, com dados do Cepa-Ufrgs, apontou vitória de Fogaça com 47,7% versus 42,3% para Raul. Ambas, assim apontam uma diferença de 6 e 5 pontos percentuais, ou, de Fogaça com 15% e 11% de votos a mais do que os votos que seriam dados a Raul, conforme as falíveis, porque científicas, pesquisas de intenção de voto.

Bertrand Kolecza / redator
Fazer jornalismo é o trabalho de, sistematicamente, conquistar inimigos políticos.