O petismo antipetista
A edição de "A" revista semanal do país, data oficial de 25/10, nas bancas já no sábado, 21/10, é um exemplo típico de como se pode caracterizar esta corajosa revista semanal: ela é o petismo antipetista. A afirmação paradoxal tem explicação. O leitor arguto já sabe, desde já, que o paradoxo deve estar na acepção em que é tomado o termo ‘petismo’.
Ao longo de duas décadas de petismo oposiocinista, ela aceitou e publicou as denúncias dos petistas contra o status quo. Veja o fiasco revelado mais de uma década depois, de ter confundido mil dólares com um milhão de dólares, resultando na cassação de Ibsen Pinheiro, que presidiu a sessão da Câmara dos Deputados que autorizou o processo de impeachment contra Collor de Mello. Aceitou as denúncias contra os governos de Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, FHC. Entre os principais operadores petistas que a alimentavam, Dirceu e o escudeiro Diniz. Por isso, ela sempre foi elogiada pelos petistas.
Com o governo petista de Lula, ela já largou bem alinhada, elogiando a vitória do príncipe dos metalúrgicos, rei da ralé faminta (edição 1775, 30/10/2002), com Lula sorrindo, segurando a bandeira do país e o título "Triunfo Histórico". Sua redação foi ingênua, crendo que um grupo político enorme, como um partido nacional, seria isento de corrupção. Acredite, se quiser.
Já ao alegar a origem de o povo, de Lula, esqueceu-se de JK, que também era do povo pobre. Com a diferença de que estudou e se formou em medicina. Como Lula não estudou, e não estuda, fica a impressão de, para ser povo, tem de ser iletrado. Em um país em que a própria classe média aluga mais filmes do que compra e lê livros ...
Mais alinhado, impossível. Chegou a se agradar da escolha do presidente do BC e do ministro da Fazendo-futuro-rompe-sigilo de caseiro. (E você acredita que o impugnável não sabia?) Edição de 18/12/2002, número 1782.
O petismo do anti-petismo, paradoxalmente, é a característica maior da revista.
O que é o petismo?
É uma visão de mundo, de sociedade e de estado, na qual a democracia é um embuste, é apenas um degrau para chegar ao poder antidemocrático (aquele que tolhe a liberdade e a igualdade, através de tributações, isenções, subsídios, etc), em que o Estado decide sobre o resultado da vida de todos, o fruto de seu trabalho, sua renda; sobre a propriedade privada, relações de trabalho, no rumo da riqueza e da prosperidade, enfim. Ao perceber tudo isso, aquela ilha de não petismo, Diogo Mainardi, escreveu que o petistmo não nasceu com o PT, mas tem 70 anos. Sim, o petismo é o governo nacional-socialista, interventor, ditatorial, controlador, liberticida, desde Getúlio Vargas, este gaúcho que foi e continua sendo uma desgraça para o país, pois com a CLT tornou todos escravos e dependentes do Estado; instituiu a destruição de uns, em nome de outros. De o pobre pelo rico; de o rico pelo pobre.
A edição que já circula nas bancas neste final de semana 21-22/10/2006, a poucos dias do segundo turno, no qual, tudo indica, consagrar-se-á a vitória do crime e da mentira, do atraso e do embuste, tem como reportagem de capa as atividades de lobbist do filho do presidente.
Ali, nas entrelinhas, vê-se que a revista não é defensora do capitalismo, embora peça um Estado menos perdulário. No "menos", o detalhe revelador.
Não adianta reclamar dos impostos excessivos, da mistura do público e do privado, pelo partido do presidente, seus familiares e amigos, ao denunciar, e bem, isso. Falta o mais relevante.
No texto, a revista publica, entre tantas reveladoras linhas: "a Brasil Telecom patrocinava Lulinha e Kalil e, ao mesmo tempo, a dupla abria as portas da sala do presidente da República à Brasil Telecom. Parece inocente. Não é. Como esses encontros ocorreram a portas fechadas e como os interesses das teles eram (e são) bilionários, qualquer simpatia do governo por um ou outro contendor é decisiva." (página 65, edição de 25/10/2006).
Onde está, no relato, aparentemente defensor da probidade capitalista, o germe petista do antipetismo da revista?
Está naquilo que não foi dito. O fato de o governo não dever se intrometer nas relações de mercado, de ele não ter outro papel, que não o de zelar pela liberdade e pela obediência aos contratos. A moral da história do petismo/estatal-intervencionismo não é obtida da excelente reportagem. Não se enxerga que o poder de governantes/Estado sobre o mercado sempre irá gerar corrupção, cada vez que produzir dificuldades de atuação.
A ausência da moral da história, entre tantas morais que a revista infere de suas excelentes reportagens, só pode ser porque a revista é petista, no seu antipetismo. Ela não extrai a lição de que reuniões clandestinas à agenda oficial, mediande interesses de mercado, sempre ocorrerão, enquanto o governo administrar (quanta prepotência) o mercado.
Tal grave fato, o poder intrínseco de o Estado de gerar corrupção, passa ao largo da reportagem, como em outras edições da revista, que relatou o horror da quebra de sigilo do caseiro (05/04/2006, edição 1950), mas que nada diz contra o fato de o governo invadir as contas bancárias dos "cidadãos" (escravos dos eleitos e concursados) todos os dias 31/12, quando os bancos informam, ao governo, quanto cada um tem depositado, uma lei/decreto que viola o princípio de a privacidade (artigo V da CF, 1988). Contra isso, ela não se pronuncia. Tal omissão, como as lições que o episódio lulinha ensina, sequer passam, parece, ao largo das ponderações de tão talentosa equipe de jornalistas, fazendo o leitor não coletivista crer que ela defende o indivíduo e a economia de livre mercado, quando, o que se vê, é o silêncio à moral da história. Ou seja, se o PT é a UDN de macação, na espirituosa frase de um outro repudiável estatista, já falecido - felizmente-, o semanário é a UDN de papel e caneta, do moralismo raso do jornalista cabeça de estatista, que não enxerga além do quid pro quo político, esquecendo do essencial: defender a liberdade, a propriedade privada, os contratos livremente estabelecidos.
Sua redação considera escandoloso que o filho do presidente faça lobby para uma empresa de telecomunicações, mas não pensa o mesmo de o fato tétrico de o governo impedir que uma empresa opere em todo o país (como hoje é vedado às empresas de telefonia), tal vedação, marca típica do intervencionismo, ou seja, do trabalhismo, da social-democracia, do nacional-socialismo, nunca, do verdadeiro capitalismo. Tal intervenção matriz inevitável de corrupção e de encontros ilícitos.
O petismo dela está em ela continuar acreditando na absurda intervenção estatal na economia, embora pareça o contrário, e mais do que isso, no surgimento de um líder honesto, do povo, ético, que vá conduzir o país, sem lobby. Melhor defender, logo, o laissez faire, caminho mais curto para chegar lá.
1 Comments:
Prezada Gina, quando foi escrito "a iniciativa privada", outra coisa não se quis dizer do que cada pessoa, indivíduo, privado que é, cuja riqueza, os proventos de seu trabalho, são estatizados.
Sim, a corrupção existe entre o setor público e o setor privado. É decorrência de o governo criar formalidades excessivas, artificiais, para produzir facilidades informais. Nem todos na iniciativa privada são corruptos. Não sei o que é "degenaração da essência do ser humano".
Podes explicar? Grato.
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