sexta-feira, outubro 13, 2006

O tabu das eleições

[Para as colunas do mensário Folha do Porto, por favor, visitar http://folhadoporto.blogspot.com]

Escrevo sobre meu estado natal, o Rio Grande do Sul. Há um grande drama, reproduzindo-se cotidianamente, neste aparentemente rico estado brasileiro, que já foi, há 30 anos, o celeiro do Brasil. Tal drama é um tabu em todas as eleições e, nesta, não poderia ser diferente. Por ser tabu é, óbvio, intocavél assunto pelos candidatos. Não foi no primeiro turno e não está sendo agora no segundo. Quando muito, falam da "crise financeira", mas não dizem como ela se dá.

Apontam, às vezes, aos 18,3% da receita que é dirigida à União, pelo acordo da dívida, à época de Antônio Britto (95-98), e pelo salvamento do Banrisul - que custa cerca de R$ 2 milhões ao dia aos gaúchos, com um lucro anual em torno dos R$ 350 milhões. Bem, este é outro tabu.

E o PT ataca Yeda Crusius (PSDB) dizendo que ela vai privatizar o Banrisul. Ela nega. Que pena. Os liberais não têm candidato no RS, apesar de um empresário, filiado ao PFL, ser o vice da social-democracia.

O tabu, enfim
Pode também ser chamado de "nó previdenciário". O mensário Folha do Porto, humildemente, muito antes de os diários, publicou a matriz da falência, confessa no orçamento anual do Estado. De cada 100 na folha de pagamento do governo do RS, 49 são inativos (aposentados ou pensionistas). E os da ativa contribuem com 11% (somando os 3,8% seus e os demais do governo) para isso. Ou seja, para cada dez ativos, deveria existir somente um inativo. O resultado disso é que um terço do orçamento do Estado - uns seis bilhões de reais/ano - é gasto para os encargos financeiros. Com uma população economicamente ativa de cerca de cinco milhões de pessoas, toca, para cada uma, cem reais ao mês somente para o serviço da dívida, oriunda de um sistema previdenciário inviável, pois socialista (chama-se repartição coletivia: todos querem o seu, dane-se de onde vem).

O quadro, visto com clareza, é ainda mais assustador. O déficit anual previdenciário, foi divulgado já nos diários, vai a R$ 4,2 bilhões. A cada quatro anos, então, são R$ 16,8 bilhões, ou seja, a cada quatro anos, o RS consome um ano inteiro com déficit previdenciário. A cada quatro anos, o governador só tem três para "administrar".

Não admira que haja tanta pobreza na terra dos farrapos. Não admira que haja tanta desigualdade, sendo os servidores públicos os melhores, na média, remunerados - sua remuneração, na maioria esmagadora, parte de os três mínimos. Na iniciativa privada, dois terços ganham até três mínimos.

Este o esgotamento do RS, o drama social, este o tabu do qual ninguém fala, afinal, são cerca de 500 mil servidores públicos do Estado (92 mil são professores, para 1,5 milhão de alunos, algo como um professor para cada 18 alunos; e as salas de aula estão com 30 a 40 alunos!), um potencial de 1,5 milhão de votos, chutando baixo, é o dos servidores e de suas famílias.

Nem o candidato do nacional socialismo trabalhista, nem a candidata da social-democracia (são quase o mesmo, ambos alimentam os vândalos do MST) têm coragem de tocar no tema da previdência inviável, geradora de monstruosa dívida. E o RS continua, há décadas, a exportar gente para colonizar o oeste brasileiro.