sexta-feira, dezembro 08, 2006

A culpa é das vítimas

Ontem à noite, 07/12, participei de uma reunião do Conselho Comunitário de Segurança do bairro Menino Deus, bairro de classe média, com cerca de 31 mil habitantes em Porto Alegre (RS). Os conselhos são cria de uma lei municipal e servem como um espaço para os moradores e empresários trazerem seus problemas e dificuldades. O conselho oficia órgãos públicos solicitando a presença para as devidas explicações. Ao final, buscam-se os encaminhamentos.

Uma frase dita na reunião de ontem por um representante da BM é a repetição de uma expressão sistematicamente enganadora (para usar o jargão do filósofo Gilbert Ryle) usada há, vá lá que seja, duas décadas neste país.

É a expressão "problema social". Os flanelinhas o são; os vigias irregulares nas ruas o são; o tráfico de drogas idem e tudo o mais que o senhor e senhora quiserem imaginar de mal que o afronta. O guri que rouba celular de uma menina ou a bolsa de uma senhora também são um "problema social". Bem como o mendigo que fede na porta de prédios e lojas e não quer ir para um albergue estatal, porque lá tem de se cumprir horário. "Problema social."

Bem, se a expressão é verdadeira, então a sociedade é quem produz tais disfunções. É a tese de quem defende a existência de "problema social".

Mas quem é a sociedade?

Ninguém mais, ninguém menos do que todas aquelas pessoas que não fedem, que tomam banho, asseiam-se, vestem-se dignamente, trabalham, cumprem horário, regras, leis, pagam impostos (escorchantes e empobrecedores, aliás), trabalham oito, dez, doze horas, se não mais, ao dia, para sustentar a máquina estatal. Que não as defende.

Assim, sendo, todos aqueles que referem um "problema social", mesmo que bem intencionados na sua assertiva, nada mais fazem do que culpar as vítimas do crime pelo crime que sofrem.

É inconcebível que os diligentes sejam culpados pela ação dos negligentes, a ralé vagabunda criminosa. Mas a legislação deste país o consagra, pois ela é generosa com o criminoso e rigorosa com quem produz. Tanto que a diretoria da Schincariol foi detida sem provas por dez dias. Já um batedor de carteira não fica mais do que 24 horas no presídio central, como relatam autoridades da BM e da Civil. Se for menor criminoso, então, bah. Chegam rindo na delegacia de polícia, quando detidos por efetivos da BM.

De onde vem esta depravação consagrada pela classe política na lei? Eu tenho uma hipótese.

A maioria esmagadora da classe política é coletivista, do comunismo à social-democracia. Até mesmo os supostamente liberais e conservadores acabam compreendendo a realidade com os conceitos e os termos do coletivismo.

Os coletivistas são depositários de uma idéia equivocada e depravada lá do século XVIII de Jean Jacques Rousseau: o homem nasce bom e o meio o corrompe. Marx é fiel depositários desta idéia.

Concepção totalmente equivocada, pois, e qualquer pai de criança pode constatar, o homem nasce uma força bruta que quer o mundo só para si. É a vida em sociedade que lhe mostra que o mundo nada lhe deve; que ele tem de esperar; que ele vai se frustrar e terá de o tolerar. Ou seja, o homem nasce mau (insociável, viciado) e o meio o torna virtuoso.

Pode ser o caso de ter péssimos pais. Claro. Mas não venham me dizer que a sociedade, que os diligentes, cumpridores de horário, asseados e polidos são a causa do "problema social". Ah, não.

Mais fácil é um diligente se tornar negligente por ver a infâmia, o crime e o vício imperarem.